segunda-feira, setembro 06, 2010

A Aidsfobia no início do século XXI

A Aidsfobia no início do século XXI

Aidsfobia é um termo que significa medo, aversão, raiva de pessoa que tenha Aids ou da própria síndrome da imunodeficiência adquirida. Não se tem um estudo de pesquisa no Brasil para saber quantas pessoas sexualmente ativas no Brasil, tem medo de se relacionar afetiva e sexualmente com pessoas sabidamente vivendo com HIV, especialmente com as dos grupos mais vulneráveis : Gays, Travestis, Prostitutas, Usuários de Drogas, Trabalhadores do Sexo Masculino -TSM e outros homens que fazem sexo com homens- HSH.

Trinta anos depois de ser identificada, a Aids permanece uma doença que não ousa dizer seu nome. A AIDS é uma doença com implicações sociais seríssimas. Quem assume que tem HIV corre o sério risco de perder o emprego, a rede de amigos, os convites para festas, casamentos, aniversários, é estigmatizado na escola, na vizinhança, na boate, na sauna, no cinema, na igreja e na boca das pessoas que sabem da informação. Muitos pacientes são abandonados pelos pais. Isso é pior do que saber que tem HIV.


A Aids não é como o câncer, uma doença que agrega as pessoas em torno. A menção ao HIV afugenta. É uma doença que não tem cura, o que muda tudo. A aceitação da AIDS é muito dolorosa. Apesar de todos os avanços, soa como uma sentença de morte O que vem depois da pessoa se descobrir com HIV: há quem permaneça no limite entre a solidão e a depressão. Quem rejeite o tratamento. Quem não consiga contar para a família.

Assim como só uma pessoa negra sente o racismo , ou uma mulher sabe o que significa a palavra machismo, ou um homossexual sabe o que é homofobia, as pessoas que tem HIV sabem o que é a Aidsfobia na pele. As pessoas que não possuem o vírus, no limite podem ser solidárias, mas não vivenciam 24 horas de estar com Aids em todos os lugares do Brasil.

Qual a saída para vencer a Aidsfobia? É preciso que o Departamento de Aids do ministério da Saúde, Programas Estaduais e Municipais da Epidemia invistam em campanhas de divulgação de combate a Aidsfobia. A campanha do primeiro de dezembro, não pode ser apenas a de luta contra a Aids, mas especialmente a de combate a Aidsfobia.

É preciso ainda haver financiamentos de projetos para a sociedade civil, especialmente voltadas para a divulgação de possibilidades de uniões de pessoas sorodiscordantes ( um com HIV e outro não ), exigência de 70% de pessoas nas coordenações , assistência e agentes de saúde, além de consultores, que tenham HIV assumidamente. É mais fácil quem vive com HIV explicar como se prevenir e as conseqüências drásticas da não prevenção, do que quem apenas teoriza sobre o tema. Imagine um projeto de combate ao racismo coordenado e conduzido por pessoas brancas, sem a presença de negros. Imagine um projeto de combate ao machismo, sem a coordenação , assistencia, consultoria de mulheres. Agora imagine os milhares de projetos de Aids que foram e estão sendo coordenados, assistidos e consultados por pessoas quem nunca tiveram HIV.

Há poucos dias a Associação Brasileira de travestis, transexuais, lésbicas , gays e bissexua-is ABGLT rejeitou a proposta de se realizar a testagem rápida do HIV durante as festas da parada do Orgulho de TLGB ( travestis, transexuais, lésbicas, gays e bissexuais ). Enquanto os contrários a testagem entendia que enquanto houver a possibilidade da entrega de um resultado positivo no local, não é possível se fazer pré e pós aconselhamento num evento tão recheado de diversão e, bebida e muito menos próximo ao som de um trio de mais de 200 decibéis. Os poucos que defendem a proposta, em sua grande maioria, são pessoas que não vivem com HIV, e acreditam que “as pessoas tem o direito de saber que tem, em qualquer dia, qualquer hora, qualquer lugar e qualquer circunstância” .

A Aidsfobia afeta a mulher que fica viúva ,com HIV e com 2,3, 4 filhos pra criar.Atinge uma pessoa de 80 anos que a família não quer nem mais visitar os finais de semana. Atinge o presidiário que precisa esconder a doença para não ser a primeira vítima de morte numa rebelião no presídio. Exclui o professor que não pode assumir a doença para não ser afastado da sala de aula. Chega até a prostituta e o trabalhador do sexo masculino, ou a travesti de programa que não pode falar do HIV para não perder a clientela e até a própria vida. O índio com HIV que corre o risco de ser expulso da aldeia.O morador da cidade pequena , onde vai virar o assunto do ano. A criança vivendo com HIV e que vai enfrentar graves problemas para se matricular. Alguém que sonha em ser militar , mas que vai enfrentar um concurso que exige dele o teste de HIV como forma de impedí-lo de trabalhar. E outras 35 mil pessoas que este ano vão descobrir que tem HIV no Brasil.

A Aidsfobia tem cura. É preciso mudança cultural. Para isso é importante o envolvimento do Ministério da Cultura, da Educação, do Trabalho, da Assistência Social, da Saúde, do Turismo, da Justiça, das Forças Armadas, das secretarias de direitos humanos, da mulher, racial e da juventude. Você que está me lendo agora, e que não tem HIV, você teria coragem de transar, namorar, ficar, casar com uma pessoa que vive com HIV? Pergunte aos seus colegas do lado. A Negativa na resposta não será novidade, pois as pessoas confiam no preservativo como forma de se proteger do HIV, desde que elas não transem com uma pessoa que tenha Aids.

Léo Mendes – Jornalista, Bacharel em Direito – membro do comitê de articulação dos movimentos sociais em Aids – Cams.

3 comentários:

Anônimo disse...

Realmente é algo que ainda precisa muito ser enfrentado. Muitas pessoas não conseguem entender, na prática, que viver com alguem que tenha HIV precisa ter os mesmos cuidados com a pessoa que não tivesse o virus. A forma de se lidar é a mesma!

Anônimo disse...

Realmente é algo que ainda precisa muito ser enfrentado. Muitas pessoas não conseguem entender, na prática, que viver com alguem que tenha HIV precisa ter os mesmos cuidados com a pessoa que não tivesse o virus. A forma de se lidar é a mesma!

Anônimo disse...

Realmente é algo que ainda precisa muito ser enfrentado. Muitas pessoas não conseguem entender, na prática, que viver com alguem que tenha HIV precisa ter os mesmos cuidados com a pessoa que não tivesse o virus. A forma de se lidar é a mesma!