sexta-feira, novembro 13, 2009

TURISMO


"Entre as principais ações desenvolvidas para o segmento LGBT,
destaco o Projeto Brasil — Destino Diversidade"

Nunca pense que, em uma viagem, quem mais se diverte é você. Ok, você pode se maravilhar com as paisagens, adorar os museus e casas noturnas e gostar bastante das pessoas que "conhece" nestas andanças, mas ninguém fica mais feliz com isso do que aqueles que lucram com o turismo, e aí estão empresas, trabalhadores do setor e governo.

No caso do turismo LGBT, o sorriso é bem mais largo do que a média. Afinal, toda pesquisa sobre o segmento indica o quanto os turistas homossexuais gastam mais e viajam mais do que os heterossexuais. Pesquisa do Ministério do Turismo espanhol divulgada neste ano indicou que um gay gasta 63% a mais em viagem no país do que um heterossexual.

Também vai neste caminho, pesquisa da Prefeitura do Rio de Janeiro, cidade recém-eleita como melhor destino gay do mundo em votação no site TriOutGayTravel. De acordo com o levantamento, o turista gay fica um tempo 60% superior na cidade e gasta, em média, o dobro em dinheiro em relação ao heterossexual.

No mais, a pink economy (economia cor-de-rosa) tem um poder que cada vez mais é reafirmado. Afinal, o que dizer de fatos como o de a Prefeitura de São Paulo ter investido apenas R$ 550 mil na Parada do Orgulho LGBT da cidade neste ano e ter propiciado a entrada de R$ 180 milhões na cidade durante cinco dias?

Sobre como agir a respeito de números tão vistosos há muitas respostas, mas as que terão mais poder de ser efetivadas são as que passam pela cabeça de quem ocupa o Ministério do Turismo (MTur), atualmente, Luiz Barreto, que concedeu a seguinte entrevista ao ParouTudo.

Na Conferência Nacional LGBT, realizada em 2008, foi determinado que o governo federal execute um programa específico nessa área. Algo bem ambicioso. Em documentos e em ações pontuais, o órgão se mostra aberto à promoção do turismo LGBT no Brasil, mas há muito o que caminhar (ou seria, viajar?). Se depender das respostas do ministro dadas nesta entrevista, a viagem poder ser menos "comprometida" do que se pode esperar.

Em 4 de novembro, o MTur divulgou a pesquisa Hábitos de Consumo do Turismo Brasileiro 2009. Nela, há questões sobre gênero, idade, classe social e anos de estudo dos turistas no Brasil. Por que a orientação sexual não foi questionada como forma de conhecer melhor o turista LGBT?

Desde 2003, quando foi criado pelo presidente Lula, o Ministério do Turismo trabalha pela inclusão social e para democratizar o acesso dos brasileiros ao turismo. Desta forma, entende e propõe o turismo como um direito de todos, independentemente de condição social, política, religiosa ou de orientação sexual, respeitando as diferenças, sob a perspectiva da valorização do ser humano e seu ambiente. Assim, os programas e ações do MTur buscam o fortalecimento do setor acompanhando de distribuição de renda e redução das desigualdades sociais, com soluções nos campos econômico, social, político, cultural e ambiental.


Nos últimos anos, que ações principais foram feitas pelo ministério em prol desse turismo?

Entre as principais ações desenvolvidas para o segmento LGBT, destaco o Projeto Brasil — Destino Diversidade, uma parceria do Ministério do Turismo com a Associação Brasileira de Turismo GLS, que promoveu a capacitação de profissionais que trabalham na cadeia turística para atender sem preconceito os turistas LGBT. O projeto, realizado em Florianópolis, Rio de Janeiro e em Salvador, teve como objetivos promover o respeito à diversidade e a inclusão social por meio da atividade turística, e aumentar o fluxo de turistas LGBT, brasileiros e estrangeiros.

Também vale a pena destacar que o tema Gênero, Turismo, Desigualdades foi abordado durante o Seminário Nacional de Diálogos do Turismo – Uma viagem de inclusão, em dezembro de 2005, que resultou em uma publicação do mesmo nome, onde estão propostas e alternativas de como promover a igualdade de oportunidades, a equidade, a solidariedade e o exercício da cidadania na perspectiva da inclusão por meio da atividade turística.
O Ministério do Turismo também participou ativamente da Comissão Interministerial para Elaboração do Plano Nacional de Promoção da Cidadania LGBT, comprometendo-se a desenvolver políticas públicas relacionadas ao turismo LGBT.

Destaco, ainda, que, sempre que possível, o MTur esteve presente nos eventos, simpósios e conferências do segmento. E continua aberto ao diálogo e à formalização de novas parcerias para fortalecer e apoiar a geração de oportunidades para a população LGBT.

Em relação às paradas, o MTur já apoiou algumas oficialmente. Que avaliação vocês têm desse apoio e o que está sendo previsto a esse respeito?
Sim, apoiamos as paradas do orgulho LGBT em diversos estados e municípios, como Manaus e Tabatinga, no Amazonas, Baixada Santista, Lauro de Freitas, na Bahia, João Pessoa, Florianópolis, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. O apoio é feito por meio de material publicitário e educativo distribuído pelo MTur.

Sobre os investimentos futuros, o Ministério do Turismo tem a mesma condição de todos os outros ministérios que compõem o governo. Ou seja, os recursos para os investimentos no ano seguinte dependem do Orçamento Geral da União, que deve ser aprovado pelos deputados e senadores e depois sancionado pelo Presidente da República. O orçamento já está no Congresso Nacional, mas não entrou em votação. Portanto, ainda não há como saber os recursos que teremos disponíveis para 2010.

O Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT traz duas ações para o MTur. Dentre elas, está elaborar e implementar o programa Viaja Mais Diversidade. O que vocês pensam em fazer dentro deste programa?

As ações do Programa Viaja Mais são elaboradas com base em critérios técnicos e seguem um planejamento rigoroso para que sejam executadas da melhor maneira possível. O programa foi criado em 2007 e a primeira ação foi o Viaja Mais Melhor Idade, voltado para os brasileiros com mais de 60 anos de idade. A segunda foi o Viaja Mais Melhor Idade Hospedagem e o Viaja Mais Jovem, cujo piloto foi implementado no Acre, devendo ser estendido a outras unidades da federação.



"Ainda não sabemos se vamos apoiar as paradas em 2010.
Tudo depende do orçamento."


O senhor teria uma explicação para o fato de não haver nenhuma ocorrência das palavras gay, LGBT ou homossexual no site da Embratur, responsável pela promoção do turismo no Brasil junto a viajantes internacionais? Fizemos a mesma busca em sites de turismo do governo da Espanha e de Londres ou indicado por eles, por exemplo, e houve várias ocorrências específicas para o visitante LGBT.

A Embratur investe no público LGBT, promovendo ações específicas para qualificar operadores de turismo, organizando press trips para jornalistas estrangeiros especializados no segmento, participando de eventos internacionais promovidos pela IGLTA, além de realizar parcerias e ações de marketing, divulgando o Brasil em redes sociais da internet como twitter e facebook.

Os resultados já começam a aparecer. Além do título conquistado recentemente pelo Rio de Janeiro, a Embratur comemora a escolha de Florianópolis para sediar, em 2012, o maior evento de turismo internacional LGBT do mundo. Estima-se que 450 congressistas, 70% deles estrangeiros, participem da convenção anual da Internatioal Gay and Lesbian Travel Association (IGLTA). Nos últimos três anos, a Embratur também desenvolveu um hotsite voltado para a Parada Gay de São Paulo, com informações sobre a cidade para os estrangeiros que vêm ao Brasil participar da parada.


O MTur tem alguma ação específica para estruturar o Rio de Janeiro de forma a dar condições à cidade, eleita o melhor destino gay do mundo, de receber melhor os turistas LGBT?

O MTur sempre destinou recursos para melhorar a infreaestrutura e os serviços oferecidos nos destinos turísticos em todo o Brasil. Evidentemente, o Rio de Janeiro está incluído nesses investimentos. Nos próximos anos, por exemplo, vamos destinar US$ 187 milhões para recuperar toda a área do Porto do Rio, que concentra mais de 22 mil habitantes e abrange uma região de mais de 3 milhões de metros quadrados. O resultado desse projeto será a restauração do patrimônio cultural, integração da região portuária à cidade, capacitação de gestores públicos e qualificação profissional; melhoria da qualidade de vida da população do Rio e do Brasil como um todo.

Quero lembrar que, nos próximos anos, o país receberá uma série de investimentos, públicos e privados, para elevar ainda mais a qualidade dos nossos destinos, tendo em vista a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

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