sexta-feira, junho 19, 2009

Homofobia - 99% dos Brasileiros tem algum preconceito contra LGBT


Edição: 940 Data:15/05/2009 Homofobia atinge 99% dos brasileiros
Érica Ferreira

Apesar de menos de 30% da população brasileira assumir-se como preconceituosa, 99% afirmam que existe discriminação, média ou máxima, contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBTs) revela a pesquisa Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil, Intolerância e respeito às diferenças sexuais – realizada pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com a alemã Rosa Luxemburg Stiftung. Do total da amostra, 6% dos entrevistados foram classificados como tendo forte preconceito contra LGBTs; 39% como portadores de um preconceito mediano e 54% manifestaram um grau de preconceito que foi classificado como leve e, apenas, 1% não expressou qualquer nível de preconceito.

Indagados sobre a existência ou não de preconceito contra LGBTs no Brasil, quase a totalidade das pessoas entrevistadas respondeu afirmativamente: acreditam que existe preconceito contra travestis 93% (para 73% muito, para 16% um pouco), contra transexuais 91% (respectivamente 71% e 17%), contra gays 92% (70% e 18%), contra lésbicas 92% (69% e 20%) e 90% acham que no Brasil há preconceito contra bissexuais (para 64% muito, para 22% um pouco). Mas perguntados se são preconceituosos, apenas 29% admitiram ter preconceito contra travestis (12% muito), 28% contra transexuais (11% muito), 27% contra lésbicas e bissexuais (10% muito para ambos) e 26% contra gays (9% muito).

O presidente da Associação Goiana de Gays, Lésbicas e Transgêneros (AGLT), professor Júlio Avilla, 25, defende que a pesquisa mostra números comuns e que em Goiás existe forte preconceito, por isso há necessidade de se aprovar o Projeto de Lei da Câmara – 122 (PLC-122) – já aprovado na Câmara Federal e empacado no Senado – que equipara a homofobia ao racismo. “É verdade que já avançaram os nossos direitos, mas por meio de jurisprudência. O primordial hoje é acabar com a violência existente.” Segundo Avilla, em 2006 e 2007 o antigo centro de referência da AGLT atendeu 250 vítimas de violência, destas 100 geraram processos judiciais. “Alguns ainda tramitam. Há de ressaltar que o Banana Shopping é campeão nas discriminações”, destaca.

Para o presidente da AGLT, as correntes religiosas fundamentalistas reforçam o preconceito contra os homossexuais, no geral. “Essas correntes aumentam a cada dia e, consequentemente, os fiéis são induzidos à homofobia”, acredita. Segundo a pesquisa, existe peso legitimador dos discursos religiosos no reforço de concepções preconceituosas da homossexualidade. Dos entrevistados, 92% concordam com a frase: “Deus fez o homem e a mulher com sexos diferentes para que cumpram seu papel e tenham filhos”, contra apenas 5% que discordam. O tamanho da colaboração religiosa para a intolerância com a diversidade sexual é reforçado, já que 66% acreditam na citação: “Homossexualidade é um pecado contra as leis de Deus”, contra 22% que discordam.


“NÃO SE TRATA DE UMA OPÇÃO, NASCEMOS ASSIM”

A estudante Naiane da Silva Barbosa, 19, e sua namorada, a atendente Josiane Alves Martins, 18, são vítimas da discriminação. Naiane, além de deixar de frequentar o setor onde mora, teve afastados os seus amigos de infância, uma vez que eles descobriram seu lesbianismo. “No começo foi muito difícil, eu não queria me aceitar. Era estranho, sentia um negócio forte dentro de mim pelas minhas próprias amigas”, lembra. Para Josiane, a situação ainda foi pior, ela não conseguia emprego. “Foi complicado conseguir serviço, não conseguia em lugar nenhum. Agora tenho uma patroa gente boa, que me respeita”, diz.

No ano passado a estudante Bruna Thaynara Garcia Fagundes, 17, assumiu-se como lésbica, quando sua família a expulsou de casa. “Arranjei uma casa de aluguel para morar, tinha fechado tudo e aí o proprietário soube que eu era lésbica e recusou a proposta”, frisa. De acordo com Bruna, dentro de sua casa a mãe agora aceita, mas com indiferença. O pai, ao contrário, é homossexual.

O decorador Fábio Diniz, 27, fica revoltado quando se lembra de clientes que perdeu por intolerância a sua opção sexual. “Quando mais jovens, minha família fazia de tudo para eu arrumar uma namorada, foi delicada a situação. Só consegui reverter o quadro ao alcançar minha independência, foi por meio do meu trabalho que a minha família me aceitou”, conta. Diniz, que usa moicano, reforça que o preconceito acontece muitas vezes em razão de seu próprio estilo. “O povo olha diferente, aponta, cochicha, somos taxados como ‘viadinho’”, reclama.

O caso do operador de micro Antonio Luiz Leal, 58, foi além da conta. Ele chegou a ser internado em uma clínica psicológica, pois os pais consideravam que ele tinha algum problema. “Não se trata de uma opção, nascemos assim.” (E.F.)


Fonte: http://www.hojenoticia.com.br/editoria_materia.php?id=24256

Nenhum comentário: