sábado, agosto 01, 2009

Educação´- NÃO EXISTEM ESCOLAS PRECONCEITUOSAS

NÃO EXISTEM ESCOLAS PRECONCEITUOSAS





Pesquisas recentes têm apontado o crescimento de preconceito nas escolas, principalmente quando esse aumento de índice implica evasão escolar, reprovação ou práticas de violência. Discriminação aos sujeitos de raça, orientação sexual, gênero e deficiência vêm liderando o ranking de grande exclusão no cotidiano escolar, porém, mesmo diante dessas estatísticas, afirmamos que não existem escolas preconceituosas, e sim práticas discursivas preconceituosas.

A escola, assim como vários ambientes político-sociais, apresenta uma diversidade de sujeitos e objetos que a configuram enquanto lugar heterogêneo. Mesmo que boa parte ou alguma das pessoas, que nela atuam, corroborem o preconceito, apresentamos, entretanto, uma escola com a existência de pessoas e seus discursos preconceituosos e não uma instituição preconceituosa.

Ao se afirmar que uma escola é excludente, generaliza-se práticas, pessoas e instituições. Nega-se a existência, mesmo que mínima, de humanizadores. Não se leva em consideração divergências, contradições e discursos opostos num espaço genuinamente heterogêneo, além disso, reforça-se discursivamente o próprio preconceito.

Entendemos, entre outras coisas, que uma mesma escola, sujeitos e objetos que oprimem, é a escola que potencializa os meios para superação de seus problemas, de modo particular, a superação da discriminação. Pensar a escola como aliada nos parece árduo em face do poder titânico dos discursos preconceituosos, basta analisarmos os índices de recentes pesquisas, contudo, o que parece estar aquém, fortuitamente, é possível e próximo em meio às praticas sociais pedagógicas. Atualmente, é possível disputar a escola para o combate de preconceitos, e isso nos é reforçado em Leis e Diretrizes Nacionais da Educação.

Quando apresentamos essa perspectiva, não estamos negando a dificuldade de se respeitar à diferença e humanizar o ensino no contexto educacional brasileiro, principalmente porque o preconceito no ensino muitas vezes é velado, silencioso; no campo do preconceito, o silêncio é eloqüente. Todavia, temos a clareza de que muito já se sabe do que se tem de negativo na escola, porém, é interessante, politicamente, enfocar o que essa escola tem de instrumental para combater práticas discursivas excludentes, é essa “causa”, sob tal ótica, que o professor deve “abraçar”.

Essa perspectiva é basilar ao educador a fim de garantia de direitos, é entender que para salvaguardar direitos humanos é necessária a assunção de deveres, deveres humanos para os direitos humanos. Entendemos, em sintonia com estudos de professores pernambucanos, como Evanilson de Sá e Rosângela Tenório de Carvalho, que aqueles que se comprometem a educar têm a prerrogativa de serem defensores e difusores de direitos. O meu direito enquanto sujeito, em par de igualdades, se dá a partir do respeito e zelo pelo direito do outro, são os deveres que tenho enquanto pessoa humana, a fim de salvaguardar os direitos e dignidade das pessoas humanas. Um Estado para ser democrático, só o é quando pressupõe deveres ao encontro dos direitos.

A nosso ver, mesmo que uma escola se depare com percentual baixo de preconceito, ela deve perceber que basta a existência de 1% de seus alunos e/ou professores preconceituosos, para que a exclusão ocorra. Cabe, portanto, o trabalho estratégico na formação de professores e no enfoque do currículo escolar, bem como problematizar a escola e sua relação com a diversidade cultural.

Por mais forte e em certo aspecto, bem estabilizado, que sejam os discursos excludentes, inclusive aqueles novos, mobilizados em função de estabilização, os tempos atuais apontam para um ensino público em respeito à dignidade humana, aos direitos humanos em educação. Os discursos e as práticas discursivas numa escola são complexos, heterogêneos e, sobretudo, contraditórios.

A ordem do discurso, ultimamente, favorece a reprodução de um sujeito social que a princípio toma o politicamente correto enquanto discurso, mesmo que “da boca pra fora”. Destoar desse discurso é um “murro em ponta de faca”, educadores não podem requerer do ouvinte a abertura de mão de suas práticas sociais enquanto sujeitos, sujeitos diferentes, constituídos de diferentes práticas sociodiscursivas. Proferir e defender o discurso do politicamente correto pode ser algo que ao professor não pertence como sua verdade, pode não existir na sua prática, porém ao proferi-lo e defende-lo já reforça o respeito à diferença.

As mudanças sociais têm acompanhado a ampliada modernização tecnológica, e isso facilita aprendizado. Além disso, os movimentos da sociedade civil organizada têm se estruturado, dando reforço e vigiando os projetos políticos pedagógicos voltados para a educação que ocorrem nas escolas.

Hoje, a tecnologia tem propiciado meios que permitem aos sujeitos maior e melhor acesso à informação, bem como tempo hábil para troca de conhecimento. O mesmo espaço midíatico que apresenta as diferenças pejorativamente em piadas de Programas Humorísticos ou em críticas de Programas e sites religiosos, é o mesmo que apresenta programas de televisão, novelas, blogs, chats e etc. que difundem o respeito à diferença. Isso possibilita o aumento de nosso repertório de significados sobre o diferente, permitindo que tais significados sejam constitutivos dos discursos que constroem a escola.

Os direitos humanos têm tido maior acessibilidade de informações para assim se organizar e ser mais incisivo quanto aos direitos em espaços sociais como a escola, e isso permite ao professor uma maior instrumentalizaçã o, e aos alunos, acesso ampliado de informações.

Assim, não há mais um cenário político e social para a educação em que os professores optem por não tocar no assunto da diferença e multiculturalidade ou por colocá-los no armário e “ensinar” um padrão sem suscitar muitos questionamentos.

A formação docente, inicial e continuada, e o currículo têm papel fundamental nessa tomada histórica de poder no âmbito escolar, nos discursos que ela produz, é o papel de (re)significaçã o. Os educadores de hoje que se pretendam críticos, não podem permitir discriminação, posição de ignorância ou de alienação ante ao preconceito. A educação é instrumento estratégico da humanização do humano, tendo nos direitos humanos a pedra fundamental para um ensino-aprendizagem de qualidade. Ser humanizado não é prerrogativa de quem é Ser Humano, é algo que deve ser priorizado no aprendizado diário, a fim de propiciar práticas sociodicursivas libertadoras.



Luciano Freitas Filho- Professor do Departamento de Letras da UFPE e membro da Gerência de Direitos Humanos da Secretaria de Educação do Estado.

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